Suicídio na adolescência é coisa séria!
Pe. Lício de Araújo Vale – Diocese de São Miguel Paulista – SP
O suicídio na adolescência é um assunto que precisa ser debatido com urgência. Afinal, o suicídio é um fenômeno social presente desde o início da história associado a uma série de fatores psicológicos, culturais, morais, socioambientais, econômicos entre outros fatores. Trata-se de um grave problema de saúde pública. Podemos dizer que há uma endemia (os números só crescem), diferente de uma epidemia (onde os números crescem, o poder público age e os números diminuem) silenciosa e silenciada. Entretanto, os suicídios podem ser evitados e prevenidos, com base em evidências e intervenções de baixo custo.
Então, o que podemos fazer para mudar estes índices? Qual o papel dos pais, educadores e amigos para evitar essas tragédias?
O primeiro e grande passo é a conscientização sobre o assunto.
O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos, no Brasil, perdendo apenas para violência. Ele é um fenômeno complexo. É o final de um processo que vai se instalando na vida da pessoa, composto por 3 etapas: os pensamentos recorrentes de tirar a vida, os planos e as tentativas de suicídio (que chamamos habitualmente de comportamento suicida).
As três principais características das pessoas que tentam o suicídio, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são:
Ambivalência: a pessoa oscila e vive um conflito entre o desejo de viver e o desejo de morrer. Anseio de sair da dor e do sofrimento e encontrar na morte uma única alternativa ou forma mais rápida e eficaz para fugir dessa situação de angústia.
Impulsividade: a tentativa de suicídio é o ato de executar o plano que a pessoa traçou para pôr fim a sua vida e é um ato impulsivo desencadeado por sentimentos negativos que podem ser temporários. É por isso que em prevenção de suicídio a gente trabalha com a frase: “NÃO TOME UMA DECISÃO DEFINITIVA PARA UM PROBLEMA TEMPORÁRIO.
Rigidez: as pessoas que tentam suicídio possuem pensamentos fixos e constantes sobre suicídio, e encaram esta como única alternativa para enfrentar e resolver o problema.
Entretanto, vale um alerta: A PESSOA QUE SE MATA, NÃO QUER ACABAR COM SUA VIDA, MAS COM SUA DOR QUE LHE É INSUPORTÁVEL.
O suicídio é influenciado por diversos fatores. A depressão é um dos principais determinantes para o comportamento suicida e para ação efetiva (tentativas) entre adolescentes como em jovens.
Situações que envolvem violência física, homofobia, consumo abusivo de álcool e uso de drogas contribuem para aumentar a vulnerabilidade dos adolescentes e jovens para o suicídio. Sentimentos de não pertencimento, como a exclusão e não aceitação de si mesmo por parte do próprio adolescente, jovem, sua família e ou seus amigos são fatores que também aumentam o risco de suicídio.
Nos adolescentes dentre os principais determinantes para o suicídio também podem contribuir: indiferença, omissão dos pais sobre suas ações e emoções, violência familiar, cyberbullying e bullying. Contudo, o suicídio pode ser prevenido! E só pode ser prevenido se formos capazes de conhecer o fenômeno para acolher a dor dos outros e colaborar na prevenção.
Qual o papel da família nos cuidados a saúde mental?
Em relação à saúde mental, a família permanece como protagonista na promoção de fatores de proteção e redução dos fatores de risco às condições psicológicas de seus membros, crianças ou adultos.
Por este motivo, promova na sua casa momentos de conversa, exclua o sentimento de individualismo, substituindo-os por autoconhecimento. Escolha um dia da semana qualquer e um espaço de tempo, não superior a uma hora para vocês conversarem com seus filhos. Durante esse período desligue a televisão, assim como o rádio, tablets e smarthphones. Faça desse tempo um momento de “bate-papo” espontâneo, onde pais, filhos e, eventualmente, outros parentes ou amigos que moram na casa, estejam periodicamente se reunindo para conversarem. Falem da vida, do trabalho, da escola, dos amigos, das coisas que amam, dos sonhos que acalentam.
Muitos pais, quando vem seus filhos num estado de desesperança, os incentivam a tentar mais, a pensar positivo, dizendo que assim irão superar os problemas. Essa atitude pode fazer mais mal do que bem e não é recomendada por especialistas. Para que o diálogo tenha efeito positivo, você precisa estar aberto à escuta.
Também não se deve evitar menosprezar a dor alheia. Esses tipos de atitudes podem significar para o seu filho que o pai/mãe não é capaz de entender pelo que ele está passando. Consequências comuns desse sentimento de incompreensão é a baixa autoestima, o isolamento e o corte de diálogo.
O importante é tentar mostrar saídas e manter o diálogo sempre aberto. Enxergando que pode haver saída para o seu problema, estando ou não em boa saúde mental, os jovens encontrarão mais motivos para viver e menos para terminar com a vida. Veja algumas dicas para enfrentar essa situação:
- Não tenha medo de falar sobre o assunto, especialmente se notar os sinais de alerta.
- Não recrimine pelo que ele (a) tem a dizer — se suas angústias forem tratadas como “bobagens” —, o adolescente se sentirá ainda pior.
- Permita que ele se sinta acolhido.
- Procure ajuda de um psicólogo ou psiquiatra.
- Incentive hábitos que favoreçam o bem-estar para afastar a depressão e ansiedade do cotidiano.
O melhor caminho para os pais, é a sua presença na vida do seu filho, tentar fazer atividades com seus filhos, entrar no mundo deles, pois se isso for feito, talvez o suicídio não seja uma opção, o adolescente precisa entender que os pais são pessoas que eles podem contar, pois o apoio familiar é crucial para a decisão de o adolescente tentar ou não o suicídio.
“A vida é a melhor a melhor escolha” é o tema da Campanha do Setembro Amarelo 2.022.
A grande maioria das mortes por suicídios podem ser evitadas e o diálogo, sobretudo familiar é o melhor jeito de fazer isso. Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento mental e ou emocional, peça ajuda.
Sacerdote, palestrante, escritor, membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio