Como trabalhar o luto na Catequese Infantil
Pe. Licio de Araújo Vale- Diocese de São Miguel Paulista (SP)
A dor é proporcional ao amor. A principal questão que se coloca quando falamos de luto, é se o luto é um processo normal. Partindo do princípio de que o ser humano cria ligações(afetivas) com significado profundo com outros (pessoas, animais, objetos, lugares) para sua existência emocional e bem-estar, a perda desses outros significativos provoca inegavelmente uma ruptura desse bem-estar e evoca a vulnerabilidade e fragilidade emocionais. Perder alguém é como perder uma parte de nós próprios. Assim, qualquer perda que coloque em causa a rotina e a segurança, bem como outros fatores de luto que é acima de tudo, necessário e normal.
Há quem possa achar estranho estarmos discutindo sobre como falar da morte com as crianças e ainda mais na catequese, se considerarmos que a morte faz parte da vida e o quanto a maioria de nós, tem dificuldades para lidar com ela, o tema já se torna pertinente. Ainda mais quando o assunto envolve crianças.
E o que faz da morte um assunto tão complicado? Nossa incompreensão. Ou talvez a nossa falta de fé. Por mais que digamos acreditar na vida eterna e num encontro final, a incerteza do que acontece depois, ainda nos assusta. Esse desconhecimento causa-nos temor. Por ser algo irreversível, preferimos fazer de conta que não existe. Ninguém precisa passar a vida falando e pensando na morte. Mas de vez em quando, ela aparece e alguém que amamos se vai ficando uma dor que demora a passar. A complexidade aumenta quando pensamos que vamos morrer, pois não conseguimos imaginar nossa própria finitude. O ser humano é criado com demasiado apego a coisas materiais e terrenas.
Perder pessoas não é um fato reservado só para os adultos. As crianças também as perdem. Sabendo da dor desses eventos, queremos poupá-las do sofrimento. Para isso, evitamos falar com elas sobre o assunto, mesmo que alguém que amem (até mesmo um animalzinho) tenha morrido. Levá-las ao velório está fora de cogitação. Confunde-se não saber com não sofrer.
Ora, não saber, não participar e não falar do fato é mais prejudicial para os pequenos. Quando não sabemos o que realmente aconteceu, imaginamos. E a imaginação é poderosa, tem asas que alcança voos altos e segue o rumo de nossas apreensões e emoções. Nada mais saudável que saber a verdade, por mais dura que possa ser, pois nos permite lidar com a realidade como ela é, sem armadilhas.
Na catequese não vale enganar
Diante da morte de alguém do convívio da criança, muitos usam de desculpas do tipo: Vovô foi viajar. A criança não é tola, percebe que tem algo acontecendo. Sem contar que deve estar se sentindo abandonada e chateada com o avô que foi viajar e nem se despediu. Muitos pensam que a criança não é capaz de entender o que acontece ou de suportar emocionalmente a ideia da morte. É sim. E vivenciando tais situações poderá compreender melhor o que ocorre. A criança também tem luto e, para que ele aconteça de maneira saudável, é necessário que ela não seja excluída do processo. Não podemos tirar dela o direito de sofrer por quem partiu.E o grupo precisa acolhê-la, deixando que ela fale da perda, dos seus sentimentos,
Quando uma criança se encontra na situação de morte de alguém, deve-se dizer a verdade – que aquela pessoa morreu e não voltará mais (o primeiro passo para que o luto ocorra é aceitar o fato que o morto estará ausente definitivamente). As explicações devem seguir o curso de sua curiosidade. Algumas crianças farão muitas perguntas como, por exemplo, o que acontece depois da morte. O melhor é sermos francos e honestos. Se não soubermos o que responder, devemos dizer isso. Mesmo se temos em nós a crença religiosa da vida eterna, do céu, de algum lugar de esperança é preciso ter cuidado com o que se vai dizer às crianças. Sem supervalorizar o pós-morte. Alguns, para amenizar a tristeza, falam das maravilhas que vêm depois, tornando o morrer muito atraente. Corre-se o risco de a criança desejar estar onde a pessoa que morreu está.
Missão da Catequese
A catequese tem uma missão fundamental para orientar os catequizandos e acomunidade sobre o verdadeiro sentido da vida, da ressurreição e da eternidade. Quem perde o horizonte da ressurreição debate-se na vida cotidiana em busca de razões e angustia-se ao pensar que um dia deverá enfrentar a própria morte…e deixar tudo.
Penso que uma das missões importantes da catequese infantil é com métodos e pedagogia própria para idade, a ajudar a criança a Viver com esperança. A certeza de vida eterna faz com que os sonhos sejam grandes, os trabalhos com finalidade, o sofrimento com sentido e a luta diária com perspectiva de eternidade.
A Bíblia nos diz: “ Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,26).
A catequese precisa ser anunciadora de esperança. A vida tem sentido porque cremos na ressurreição e na vida eterna. A fé é a seta que aponta para o infinito. Não nascemos para o finito, o transitório e o perecível. Nascemos para a eternidade, para o “novo céu e a nova terra, onde não há mais choro nem lágrimas”.(À 21,4).
Sem esperança a vida não tem rumo, nem sentido e nem respostas. A fé na ressurreição e a certeza da vida eterna é fundamento da nossa esperança e a razão para desde a pré-catequese ajudarmos os nossos catequizandos a construirmos o Reino de Deus.