Educação que transpõe a escola

Romeu Motta (Comunicação do Colégio Eucarístico)
Fotos: Romeu Motta e Alicio Gomes

O tempo da surpresa acabou. 2020 foi um ano desafiador e de muito aprendizado, portanto, mesmo mantendo os enormes desafios impostos pela pandemia de Covid-19 à educação, não nos cabe, seja enquanto escola, família ou sociedade, mantermos o discurso do enfrentamento ao inesperado. Podemos até desconhecer todos os detalhes, mas não desconhecemos as medidas de precaução, os cuidados e as atenções demandadas e, principalmente, as consequências e as adaptações, ou melhor dizendo, mudanças, que são exigidas para que consigamos exercer com o melhor desempenho nossos deveres.


Falamos em mudanças e não em adaptações por acreditarmos que muitas dessas alterações serão permanentes no campo educacional como, por exemplo, encontros e reuniões virtuais. Todos sentimos falta do presencial, claro, mas é indiscutível que a participação, principalmente de pais, aumentou consideravelmente devido à adoção da teleconferência. Muitos fatores contribuem para isso e podemos destacar alguns bastante óbvios como o conforto de se estar em casa; o tempo economizado no trajeto, seja do trabalho ou de casa até o colégio; a dor de cabeça com o trânsito e o estacionamento – embora tenhamos um estacionamento conveniado bem em frente a nossa matriz e disponhamos de muitas vagas em frente a nossas filiais, esta não é a realidade para todos; a necessidade de arrumar-se ou produzir-se para as reuniões presenciais…


Acreditamos também que, ao término deste período de restrições, manteremos boa parte da tecnologia adquirida em uso contínuo. As aulas remotas evidenciaram o valor das aulas práticas e das experiências vivenciadas em ambiente escolar, mas também apontou caminhos para o bom e proveitoso uso desses novos recursos para a otimização de ferramentas pedagógicas e de conteúdos conceituais, possibilitando que seu uso, como é o caso das aulas remotas, libere o tempo de permanência física e de interação presencial entre alunos e professores para o desenvolvimento de aprendizagens significativas, trazendo, assim, mais sentido e prazer ao processo ensino-aprendizagem.
Mas é claro que nem tudo são flores. Passamos por momentos realmente difíceis sob várias perspectivas – escolar, familiar, pessoal, social. Reconhecemos que houve perdas consideráveis neste processo, o que fez acentuar ainda mais as distâncias existentes entre as diversas individualidades presentes em sala de aula. A relação ensino-aprendizagem não pode ser vista como uma massa homogênea, pois cada indivíduo apresenta tempo e maneira específicos, além da variação de capacidade de concentração, de atenção, de identificação e facilidade com meios tecnológicos, de condição financeira, de possibilidade de acompanhamento dos pais/responsáveis nos estudos… Enfim, as variáveis são infinitas.

Observar para agir

Como foi dito, o tempo da surpresa passou. Os desafios foram superados e o aprendizado ficou. Agora é hora da ação! Sabendo o que sabemos, como trabalharemos para garantir o melhor ensino e sanar as deficiências herdadas em decorrência de um movimento brusco em todo o sistema?
No Colégio Eucarístico, partimos do pressuposto de que as melhores soluções são provenientes não de fórmulas mágicas ou de nomes técnicos encantadores e, de certa forma, um pouco prepotentes, mas sim de observação atenciosa e conhecimento da realidade. Portanto, o primeiro passo foi com a aplicação de atividades diagnósticas para coletar os níveis de aprendizagem dos alunos, oportunizando a efetivação de um planejamento contextualizado. Isso fez toda a diferença. Atenção total ao início do processo para que a base fosse confiável e as premissas, seguras.
Com estes dados em mão, pudemos observar os ritmos – conjuntos e individuais – de aprendizagem, as dificuldades apresentadas, as áreas que exigiriam maior atenção, os pontos em que precisaríamos atuar para equilibrar as condições e traçar planos e metas.
Vale ressaltar que essas avaliações e esses diagnósticos não são relativos exclusivamente a alunos. O corpo docente de todas as escolas também passou por muita dificuldade e, claro, também é possuidor de individualidades. Toda a atenção e todo o suporte devem ser dados ao corpo docente, pois ele encontra-se em posição determinante e fundamental para que os resultados sejam alcançados com a máxima eficácia.
Apenas a título de exemplo, como resultado dessas atividades diagnósticas foi observada a necessidade de um aumento na carga horária dos alunos do ensino fundamental – anos iniciais, resultando em encontros com os professores em aulas “tira-dúvidas”, permitindo, assim, ações mais pontuais e com mais assertividade nos pontos nevrálgicos. Outra ação similar ocorre com o ensino fundamental – anos finais e com o ensino médio, segmentos em que são ofertados os famosos “aulões” no contraturno abordando conteúdos revisionais.

Simples, não? Sí, pero no mucho!

Afinal, estamos em um momento economicamente difícil a nível mundial e sabemos bem da realidade de nosso país, de nossos estados e de nossos municípios. Todas essas simples ações demandam muito trabalho e custos diversos. A preparação e a manutenção dos ambientes; os equipamentos; os treinamentos; as formações continuadas; as horas de trabalho dedicadas a essas ações, tudo isso exige um forte investimento em um momento no qual as famílias passam por enormes dificuldades. Como aliar o investimento necessário às receitas em queda? A manutenção de empregos à inadimplência crescente? Matemática complicada, não?
Crucial neste momento é a compreensão das diferentes situações e realidades. A boa gestão exige audácia e cautela simultaneamente, sempre com um olhar atento às pessoas.
A primeira ação concreta para garantirmos a continuidade dos estudos de nossos alunos foi a flexibilização dos termos de negociação de débitos, retirando juros e multas e concedendo descontos, pois sabemos que o aumento do índice inadimplência deveu-se ao agravamento da situação financeira das famílias. Isso possibilitou à enorme maioria dos alunos permanecer conosco em 2021, dando sequência e continuidade a seus estudos com qualidade e a devida assistência pedagógica e estrutural. Primeira ação pós-pandemia, frise-se, pois como Associação Educacional sem fins lucrativos, sempre operamos com descontos significativos ao longo desses 80 anos de história.

Viver em Família

Contudo, as dificuldades permanecem neste ano. Pensando nisso, criamos e estamos implantando um projeto inovador e pioneiro em nossa região, a CAPA – Cooperativa de Apoio Profissional a Pais, Alunos e Ex-Alunos, com o intuito de contribuir para a geração de renda e movimentação da economia em nossa comunidade e sociedade, além de estreitar os laços da nossa enorme e amada Família Euca. Trata-se de um canal oficial de oferta e busca de serviços e pontos comerciais onde nossos participantes podem inserir-se gratuitamente. Tudo realizado diretamente em nosso site oficial, colegioeucaristico.com.br. Acreditamos que todos podemos e devemos contribuir para a superação das adversidades. Agindo coletivamente, como família que somos, temos reais chances de impactar positivamente na sociedade como um todo. Acreditamos que pequenos gestos e pequenas ações são transformadoras.
Sabemos que a educação possui um forte poder transformador, mas todos reconhecemos que a base para a sólida constituição da pessoa humana é oriunda do seio familiar. Se há uma verdade que estes anos trilhando os caminhos da educação nos mostrou é que as relações familiares estão no cerne da questão. Todos somos capazes de aprender e de evoluir, mas é indiscutível que tudo fica mais fácil quando o ambiente é favorável. É primordial estarmos atentos a nosso meio familiar. Temos sofrido alterações bruscas de rotina, incertezas, medos, ansiedades… temos nos expostos mais devido ao maior tempo de convivência; temos perdido as “válvulas de escape” dos momentos de descontração, dos lazeres; temos sido expostos a elevadas cargas de estresse e pressão… tudo isso altera nosso estado emocional e acaba refletindo nas pessoas à nossa volta. Porém, estar ciente disso e buscar meios de amenizar e trabalhar esses fatores pode contribuir decisivamente para a saúde física e mental de todos.
Se nos cabe, como escola, uma única orientação ou um único conselho, este seria: cuidem-se! De si mesmos e dos seus. Fortaleçam seus laços familiares mais estreitos. Isso lhes dará forças para transporem obstáculos e, já fortalecidos, serão capazes de fortalecerem outras pessoas, outras famílias, suas comunidades… impulsionando um movimento de comunhão e prosperidade a exemplo do próprio Cristo, que iniciou sua vida Santa na Sagrada Família, compartilhou com seus 12 apóstolos, e distribuiu seu amor a toda a Terra.

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *