Festa da Coroa do Divino preservada no Município de Bom Jesus de Itabapoana

Orlando de 82 anos e o neto Daniel de 12 anos na preservação da tradição da Festa da Coroa do Divino

Gerações se unem para preservar a Festa da Coroa do Divino em Bom Jesus do Itabapoana (RJ). Orlando Batista de Oliveira Silva, 82 anos e o neto Daniel Baptista Lemgruber, 12 anos partilham de uma história de fé e cultura. Em 1947 o avô foi o imperador e no ano passado Daniel recebeu o legado familiar. Da tradição a fé renovada é a história da fotografa Rosangela Figueiredo que faz questão de participar e registrar e eternizar nas fotos a memória da cidade.

Ricardo Gomes – Diocese de Campos

Fotos: Rosangela Figueiredo

No Município de Bom Jesus do Itabapoana (RJ), a Festa da Coroa do Divino representa um dialogo entre fé e cultura que se abraçam. A festa é promovida pela Paróquia Senhor Bom Jesus e acontece no mês de agosto dentro da programação do Padroeiro Senhor Bom Jesus realizada no dia 6. Mas a devoção no Divino Espírito Santo que marca os moradores é presença certa e mantida pelas gerações que se encontram na preservação da tradição cultural. Aos 82 anos Orlando Batista de Oliveira Silva guarda a foto de 1947 dele sendo o Imperador e ano passado a emoção de ter o neto Daniel Baptista Lemgruber, 12 anos, partilhando da história da cidade representando o imperador. Duas gerações que encontram na preservação da memória coletiva da cidade.

Bispo de Campos recebe a coroa do divino e destaca a importância da tradição

— Foi muito marcante na minha vida e certamente um dia vou contar a meus filhos e netos da mesma forma que meu avô me conta da felicidade que foi para ele e agradeço muito por ter representado o imperador. Quantos meninos de minha idade que ainda não tiveram essa experiência. – conta Daniel.

Memória coletiva do Município de Bom Jesus de Itabapoana e um orgulho para os mais idosos e um compromisso para as novas gerações que aprenderam a valorizar o legado de fé e de cultura, representando as historias que fazem parte da cultura de Bom Jesus de Itabapoana, no Estado do Rio de Janeiro. Rosangela Figueiredo partilha as lembranças e do orgulho de ter nestes anos acompanhado a tradição que une fé e cultura popular que se abraçam. Em 2007, a mãe  recebeu em casa os símbolos sagrados da festa e a fotografa se aproximou da igreja e a alegria foi completa em 2018 o neto João Pedro, foi escolhido para ser Imperador dessa festa. A partir deste ano o compromisso foi aumentando e hoje a fotografa se emociona a cada ano que faz questão de registrar todo evento.

O açoriano Francisco Amaro Borba Gonçalves que mora em Casimiro de Abreu e veio especialmente para a Festa na foto histórica.

— Andava afastada da Igreja, e receber os símbolos da festa me chamou a minha atenção para me reaproximar da igreja. E a alegria foi completa e meu neto foi o imperador preservando essa tradição de minha cidade. Hoje nem tenho tempo para a emoção e acompanho a tudo registrando todos detalhes desta tradição mantida pelas famílias. Deixei-me ser tocada pelo Espírito Santo e retornei se onde nunca deveria ter me afastado e tornei-me  fiel Deus e a Igreja. – relata Rosangela.

Emoção, Fé e Cultura. Para o jovem universitário Vilcemar Diniz Pereira de Oliveira Junior a Festa do Senhor Bom Jesus e da Coroa do Divino é uma tradição que une fé e cultura e desde criança acompanha as festividades com emoção e alegria. E neste ano as festividades serão marcadas pela saudade de rever amigos e familiares.

– A Festa da Coroa a qual comemoramos em Bom Jesus do Itabapoana-Rj é uma festividade que trás muita emoção a todos nós que somos filhos daquela terra, para mim é motivo de especial alegria, sempre participei dos festejos do Padroeiro, acompanhava as procissões que são feitas levando as relíquias da coroa do divino, o centro e a bandeira para as casas de tantos devotos que preparam o ambiente para a chegada do imperador da festa. Que este ano possamos renovar nossa fé e esperança em nosso divino padroeiro, afinal, somos felizes, pois temos como protetor da cidade o Bom Jesus. – pondera Vilcemar Diniz Junior.

 

A força da fé e da cultura mantida de forma criativa

Na Pandemia a tradição acontece de forma restrita, mas com a mesma fé que reúne todas as gerações para acompanhar o momento máximo que acontece no dia 15 A mesma empolgação e entusiasmo é uma das marcas do Dentista Antônio Soares Borges que faz questão de contar um pouco destas historias de fé e devoção no Divino Espírito Santo.  E relata que a festa de Bom Jesus remonta ao ano de 1860, quando, juntamente com a formação do Patrimônio dedicado ao seu Padroeiro, o Senhor Bom Jesus do Itabapoana, são estabelecidas as bases da devoção à Divino Espírito Santo.

– A nossa Festa é muito rica e peculiar, tem influência de Portugal Continental, dos Açores e do Brasil. A visita das Insígnias do Divino às residências é um costume açoriano, introduzido pelo Pe. Antonio Francisco de Mello, açoriano da Ilha de São Miguel, que também introduz à Festa um Hino muito, muito antigo e tradicional na sua terra natal, que popularmente ficou conhecido como Hino da “Alva Pomba”, nada mais nada menos, o tradicional Hino açoriano do Espírito Santo. Bom Jesus, orgulhosamente, é o único local do mundo que toca e canta esse belíssimo Hino fora dos Açores e das Comunidades açoriana espalhadas pelo mundo.  Natural da Ilha de Açores, Francisco Amaro Borba Gonçalves esteve em Bom Jesus ano de 2019, para conhecer tão linda tradição, uma Festa única, que contém elementos da tradição religiosa de Portugal (Continente), dos Açores e do Brasil. –  relata Antônio Soares Borges.

A Pandemia não conseguiu acabar com a tradição com mais de 100 anos que teve a programação adaptada as medidas sanitárias. O Bispo de Campos (RJ) e Referencial Nacional da Pastoral da Saúde fala da necessidade de manter a tradição e com todas as medidas para evitar a circulação do Covid 19 e no cuidado da vida e da integridade dos fiéis. No Município de Bom Jesus do Itabapoana está sendo flexibilizado o isolamento social e a festa terá presença restrita de participantes nas missas e no cortejo que conduz a coroa, cetro do imperador e a bandeira que peregrina nas casas das famílias desde o inicio da programação.

– Sempre se disse que o Culto gera cultura e  anima totalizando e renovando valores e práticas religiosas e espirituais. Assim há um rico acervo de tradições de procedência açoriana e portuguesa que junto ao catolicismo mineiro inspiram rituais e simbologia presente na piedade popular. O patrimônio e a matriz religiosa de um povo e  também diz o Papa na Laudato Si configuram a ecologia integral do cotidiano de nossas memórias. Cuidar da memória ajuda não dó a viver mais e a  embelezar a vida e carregá-la de sentido e esperança. Em particular a Festa do Senhor Bom Jesus e da Coroa do Divino manifestam a graça da entrega de símbolos de fé compartilhados que irmanam e dão esperança firme ao nosso povo. – afirma Dom Roberto Francisco.

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